sábado, 26 de abril de 2008

CIDADE DOS SENTIMENTOS


EGIVANILDO TAVARES


Um certo jornalista decidiu fazer uma matéria que causasse impacto, e levasse o seu nome ao “ranking” dos melhores jornalistas do país. Sua preocupação maior era levar ao povo uma notícia séria e preciosa, que, além de informar, também transformasse a vida das pessoas. Resoluto saiu à procura do tema, quando de repente surgiu a idéia de fazer uma matéria sobre o SENTIMENTO mais importante, aquele que além de atuar nas vidas das pessoas as levassem ao caminho da Felicidade. E saiu à procura da “Cidade dos Sentimentos” para iniciar sua grande matéria.

Ao encontrar a cidade avistou o MEDO, desconfiado e inseguro. O jornalista aproximou-se e fez-lhe a seguinte pergunta: -MEDO. Qual é o tipo de lugar que você mais gosta de habitar? E o MEDO meio trêmulo e temeroso respondeu: -Em todos os lugares; nos grandes centros urbanos, nas periferias, nos becos escuros, nas matas sem saída e nas esquinas, mas, o lugar que eu mais gosto de habitar é nas pessoas inseguras que não têm fé, nem esperança e o otimismo se encontra bem distante delas; são pessoas que não acreditam num futuro melhor, pensam que nasceram somente para sofrer e aceitam isto como destino. Onde houver um coração assim, eu estarei entronizado. Pois, o medo de não acertar, o medo de tentar, o medo da decepção, o medo de ser infeliz para sempre, faz com que essas pessoas criem um espaço para o meu reinado.

E saiu o repórter a entrevistar outros Sentimentos. Encontrou o ÓDIO, um Sentimento mal encarado com olhos inflamados pela ira. Meio temeroso, o repórter se aproximou e perguntou: -ÓDIO, Por que você habita nos corações das pessoas? Pois, sem a sua presença seria mais fácil resolver os problemas e a vida teria outro sentido. O ÓDIO deu um sorriso sarcástico e disse: -Aaah, eu não tenho culpa se as pessoas não se controlam, nem conversam tranqüilamente, nem se perdoam facilmente, nem admitem que seus orgulhos sejam feridos, porque preferem minha presença entre eles do que a presença da pacificação. Eu não entro onde não me convidam, mas, somente nos corações feridos e desejosos de curar o “EU” com a vingança, pois desconhecem meu adversário: o Perdão. Ele também gosta desses corações feridos, e nesta questão quem chegar primeiro é quem vai dar a solução...

Na tentativa de encontrar o Sentimento perfeito para sua matéria, o jornalista continuou a procurar. De repente encontrou a DOR, irradiada de sensações desagradáveis e horripilantes. Mais uma vez ele se aproxima e pergunta: -DOR, o que leva você se aproximar das pessoas e lhes roubar o prazer da vida? E a dor respondeu: -Ai, ai, lá vem um representante da “Dona Cura” procurando me destruir! Eu não sou responsável pelas atitudes impensadas de ninguém, nem tão pouco pela imprudência com que tratam a vida, afinal de contas estou a serviço dos acidentes, dos malfeitores, das palavras agressivas, dos que preferem abrigar os problemas dentro do peito. Eu não gosto daqueles que procuram a cura, eu amo os que me amam, os masoquistas, pois, já se acostumaram com minha presença, e acham que nasceram para conviver comigo.

A cada momento o jornalista percebia o quanto era difícil encontrar um Sentimento perfeito, porque até aquele momento só encontrara Sentimentos que descaracterizavam as pessoas. Mas de repente percebe um Sentimento de cabeça erguida, peito levantado e passos tão firmes que quase não pisava no chão, e o jornalista pensou: -Pela postura que este tem, acredito que acabei de encontrá-lo? Correu ao seu encontro e percebeu que era o ORGULHO. O jornalista não perdeu tempo, foi logo fazendo a pergunta: ORGULHO, como você consegue entrar nos corações das pessoas? O Orgulho com um olhar desprezível e jactancioso encheu o peito, respirou fundo e disse: -Sei que você não é a pessoa indicada para me entrevistar, mas mesmo assim vou lhe conceder esta honra. O meu portal de entrada nos corações é o “EU”, “Eu Posso!” “Eu Tenho!” “Eu Sou!” Quando as pessoas assumem posturas narcisistas, e pensam que sozinhas são capazes de conseguir o que desejam, se julgam superiores a todos, não admitem opiniões alheias, nem se comparam com ninguém e tratam a todos inferiores a si, e o “EU” se torna superior ao “NÓS”, então eu chego para abrilhantar o EGO.

Decepcionado com as entrevistas, o pobre jornalista sai a procura de um Sentimento que possa corresponder os pré-requisitos da felicidade. Quando de repente encontrou um Sentimento cheio de cicatrizes, estigmatizado pelo tempo, porém cheio de felicidades, aparentando uma idade avançada, mas com a força da juventude e a pureza de uma criança. Sem perca de tempo se aproximou e perguntou-lhe: -Sentimento. Qual é o seu nome? (Pois, a este nunca tivera visto antes) Serenamente o Sentimento lhe respondeu: -Por que queres saber o meu nome? Não seria mais interessante conhecer-me primeiro, e depois sabê-lo? E o jornalista admirado ao ver tanta candura na expressão, sem hesitar aceitou sua proposta. E o Sentimento chamou o jornalista para uma viagem no tempo e lhe mostrou uma série de cenas da vida. Mostrou-lhe um rei com os olhos banhados em lágrimas libertando um escravo da masmorra. E disse-lhe: -Eu sou a motivação deste ato. Mostrou-lhe duas famílias camponesas se reconciliando, e o Sentimento repetiu: -Estou nesta ação. Mostrou-lhe muitas cenas; um filho voltando para casa depois de muitos anos, uma esposa perdoando seu marido e acreditando em dias melhores. Crianças se abraçando, guerreiros transformando suas espadas em ferramentas de trabalho, um amigo dando sua vida para salvar o outro e uma jovem na primavera beijando uma flor e sonhando com a chegada do noivo das terras distantes. Mostrou-lhe o brilho nos olhos de um velhinho que oferecia abrigo e pão ao necessitado, as lágrimas que corriam nos olhos do enfermo que recebia a visita, a alegria do trabalhador que se realizava... Por último mostrou-lhe o Filho de Deus crucificado, agonizando no alto do Calvário e assumindo a culpa dos pecadores, então o sentimento afirmou: -Sou a razão maior deste sacrifício.

Após terminar aquela grande viagem no tempo o Sentimento disse: -Estou em todos os lugares, em todas as horas, em todos os tempos, meus dias são incontáveis e minhas atitudes ilimitáveis, pois, posso tirar o MEDO, eliminar o ÓDIO, sanar a DOR, e converter o ORGULHO em HUMILDADE. Eu posso todas as coisas, basta me dar uma oportunidade. Sou a razão da fé, o guia da esperança e o exercício do bem. EU SOU O AMOR!

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