Às vezes me pergunto porque permitimos que as mudanças nos atinjam. Será que somos tão incapazes de percebê-las de imediato? Ou será que não temos domínio sobre nós, ou sobre os fenômenos que nos cercam? Sempre que acordamos para o despontar de um novo dia, logo percebemos que já não somos mais os mesmos. Por que? Será que aceitar as mudanças é tudo que podemos fazer? Ou podemos tentar mudar com elas? Esta é uma questão que parece que tudo já está determinado, é como se não pudéssemos fugir da mata que se incendeia através de uma ínfima centelha em um insignificante graveto perdido entre inumeráveis galhos, troncos, folhas e árvores e vai dominando tudo silenciosamente. O determinismo fatalista parece nos perseguir de forma subliminar, mas quando nos deparamos com a razão logo percebemos que o determinismo é suplantado pela nova escolha, pois o livre-arbítrio em plena atividade é uma fortaleza para evitar a fatalidade e alterar o determinismo. Sendo assim, começamos a perceber que as mudanças não podem ser impedidas, mas podem ser alteradas.
Somos impelidos pelas garras do sistema ainda que não queiramos, pois se não, nos tirarão o direito de sobrevivência. Ou os idosos aprendem a manusear o cartão eletrônico, ou terão de confiar suas senhas a alguém que saque suas aposentadorias. É assim que o mundo gira obedecendo às leis determinadas sobre ele. Ou incorporamos o novo dia que nasce ou seremos absorvidos pelo dia que se foi. A interação das engrenagens faz parte do relacionamento mútuo das máquinas. Da mesma forma precisamos interagir com as mudanças sem perdermos a identidade. Mudanças físicas, afetivas, efetivas, psico-sociais e sócio-econômicas se manifestam continuamente obrigando-nos a uma mudança de consciência, de ponto de vista e reavaliação de valores e conceitos éticos.
Nesta plataforma das transformações não podemos cruzar os braços e nos posicionarmos apenas como espectadores. Faz-se necessário uma participação ativa, direta e firme se quisermos sobreviver. As mudanças são inevitáveis, é um fenômeno global que as desencadeia. Basta uma olhada para o dia de ontem para percebermos o quanto o mundo está mudando. Esta é a era do universalismo, da informação imediata através dos meios de comunicação mais sofisticados, da Internet, do satélite, a era da informática, do homem virtual... Tudo isto tem provocado mudanças que exigem transformações no homem, mudanças orgânicas e inorgânicas, ou seja, os efeitos colaterais que jamais poderiam se distanciar de um processo como este. É como se um vulcão entrasse em erupção causando pânico e terror para alguns e satisfação para outros que há muito vinham pesquisando-o.
Neste processo de mudanças verte-se o desequilíbrio das mentes incautas que buscam satisfazer seus apetites desordenados e ideais que maculam os paradigmas da moral divina. Estas mudanças buscam o reconhecimento universal de uma ética sem ética, pois defendem que estamos em um “novo mundo”, onde o relativismo justifica o fim. Este é o espírito da nova consciência que vem requerendo a ascensão do humanismo e o endeusamento do homem, sem se ater a um padrão imaculável.
Como encarar tamanhas mudanças? É certo que não podemos detê-las ou estacioná-las, ou ao menos congelá-las até que passe nossa geração. Fugir da realidade é impossível. Se esconder da verdade? Como? É o mesmo que tentar se esconder dentro de uma cúpula de cristal ou tentar se separar de sua sombra. As mudanças na sociedade que buscam infligir as leis da natureza e da consciência devem ser encaradas como patogenias ameaçadoras ao equilíbrio. Para nos mantermos imunes diante dessas mudanças precisamos detectar as patologias e sufocá-las com o poder da razão moral. Permitir o avanço das mazelas é o mesmo que desejar o desequilíbrio universal do gênero humano. É certo que em todo processo transformativo existem problemáticas preocupantes que precisam ser eliminadas o pelo menos detidas.
Neste cenário que se descortina uma “nova era”, estamos à procura dos atores para protagonizarem seus papéis já que os bastidores não cessam de lançar suas peças ideológicas. Subir ao palco das mudanças exige preparo, segurança, determinação e firme posicionamento pra enfrentar uma platéia obcecada pelos novos parâmetros disseminados pelos meios de comunicação. É justamente neste momento de mudanças efervescentes que se procura descobrir um lutador, que esteja apto a entrar na arena e enfrentar as feras que vem devorando os que não estão preparados para a nova realidade. Quem será este lutador? Este ser capaz de mudar a visão das pessoas? De despertar uma nova consciência? De fomentar o desejo para adaptarem-se as mudanças? De acordá-las para a nova e velha era? Não encontramos outro ser mais indicado que o educador, sim o educador, o agente da transformação, o sujeito ativo e mediador da “nova” consciência. Interagindo com o meio de uma forma imparcial buscará ele cumprir o seu papel de construtor e transformador de idéias e como ninguém constrói sozinho, nem somente com palavras, mas com atitudes e gestos nobres, esta seria a hora ideal do educador. Toda boa construção depende de um bom alicerce, um bom alicerce propicia condições para boas colunas que por sua vez garantem a estabilidade de uma grande construção. O educador tem a ferramenta certa: a educação. Começa no terreno certo: a infância.
Acreditamos não existir para o momento, alguém que possa contribuir tanto, quanto o educador, pois sem a educação não poderá haver a verdadeira mudança, a mudança do ser, pois o progresso do mundo depende primeira e exclusivamente da educação e a educação requer o educador para atingir o educando. Quando o mundo se desequilibra com as mudanças, então urge a necessidade de investir nas crianças de hoje para que possam enfrentar o dia de amanhã. Quem moldará essas vidas? Quem poderá auxiliar os desesperados? Só temos uma resposta para o momento: o educador.
Desde os primórdios que a educação tem alterado as sociedades e mudado o seu curso. Hoje não será diferente! A educação ainda é o elemento de instrumentalização da verdadeira mudança. Essas sim, são mudanças que mudam.