segunda-feira, 28 de abril de 2008

MUDANÇAS QUE MUDAM

EGIVANILDO TAVARES


Os dias se findam velozmente. Às vezes nem percebemos como tudo se transforma ao nosso redor. De repente nos deparamos com as mudanças que estão ocorrendo. Ainda que não transpareçamos, estamos muito insensíveis às mesmas. Um pouco de percepção e logo se desnuda uma série de mudanças que nos deixam perplexos. Parece-nos que isto se justifica porque estamos sempre olhando com os mesmos olhos, as mesmas coisas, mas nunca com a mesma visão.

Às vezes me pergunto porque permitimos que as mudanças nos atinjam. Será que somos tão incapazes de percebê-las de imediato? Ou será que não temos domínio sobre nós, ou sobre os fenômenos que nos cercam? Sempre que acordamos para o despontar de um novo dia, logo percebemos que já não somos mais os mesmos. Por que? Será que aceitar as mudanças é tudo que podemos fazer? Ou podemos tentar mudar com elas? Esta é uma questão que parece que tudo já está determinado, é como se não pudéssemos fugir da mata que se incendeia através de uma ínfima centelha em um insignificante graveto perdido entre inumeráveis galhos, troncos, folhas e árvores e vai dominando tudo silenciosamente. O determinismo fatalista parece nos perseguir de forma subliminar, mas quando nos deparamos com a razão logo percebemos que o determinismo é suplantado pela nova escolha, pois o livre-arbítrio em plena atividade é uma fortaleza para evitar a fatalidade e alterar o determinismo. Sendo assim, começamos a perceber que as mudanças não podem ser impedidas, mas podem ser alteradas.

Somos impelidos pelas garras do sistema ainda que não queiramos, pois se não, nos tirarão o direito de sobrevivência. Ou os idosos aprendem a manusear o cartão eletrônico, ou terão de confiar suas senhas a alguém que saque suas aposentadorias. É assim que o mundo gira obedecendo às leis determinadas sobre ele. Ou incorporamos o novo dia que nasce ou seremos absorvidos pelo dia que se foi. A interação das engrenagens faz parte do relacionamento mútuo das máquinas. Da mesma forma precisamos interagir com as mudanças sem perdermos a identidade. Mudanças físicas, afetivas, efetivas, psico-sociais e sócio-econômicas se manifestam continuamente obrigando-nos a uma mudança de consciência, de ponto de vista e reavaliação de valores e conceitos éticos.

Nesta plataforma das transformações não podemos cruzar os braços e nos posicionarmos apenas como espectadores. Faz-se necessário uma participação ativa, direta e firme se quisermos sobreviver. As mudanças são inevitáveis, é um fenômeno global que as desencadeia. Basta uma olhada para o dia de ontem para percebermos o quanto o mundo está mudando. Esta é a era do universalismo, da informação imediata através dos meios de comunicação mais sofisticados, da Internet, do satélite, a era da informática, do homem virtual... Tudo isto tem provocado mudanças que exigem transformações no homem, mudanças orgânicas e inorgânicas, ou seja, os efeitos colaterais que jamais poderiam se distanciar de um processo como este. É como se um vulcão entrasse em erupção causando pânico e terror para alguns e satisfação para outros que há muito vinham pesquisando-o.

Neste processo de mudanças verte-se o desequilíbrio das mentes incautas que buscam satisfazer seus apetites desordenados e ideais que maculam os paradigmas da moral divina. Estas mudanças buscam o reconhecimento universal de uma ética sem ética, pois defendem que estamos em um “novo mundo”, onde o relativismo justifica o fim. Este é o espírito da nova consciência que vem requerendo a ascensão do humanismo e o endeusamento do homem, sem se ater a um padrão imaculável.

Como encarar tamanhas mudanças? É certo que não podemos detê-las ou estacioná-las, ou ao menos congelá-las até que passe nossa geração. Fugir da realidade é impossível. Se esconder da verdade? Como? É o mesmo que tentar se esconder dentro de uma cúpula de cristal ou tentar se separar de sua sombra. As mudanças na sociedade que buscam infligir as leis da natureza e da consciência devem ser encaradas como patogenias ameaçadoras ao equilíbrio. Para nos mantermos imunes diante dessas mudanças precisamos detectar as patologias e sufocá-las com o poder da razão moral. Permitir o avanço das mazelas é o mesmo que desejar o desequilíbrio universal do gênero humano. É certo que em todo processo transformativo existem problemáticas preocupantes que precisam ser eliminadas o pelo menos detidas.

Neste cenário que se descortina uma “nova era”, estamos à procura dos atores para protagonizarem seus papéis já que os bastidores não cessam de lançar suas peças ideológicas. Subir ao palco das mudanças exige preparo, segurança, determinação e firme posicionamento pra enfrentar uma platéia obcecada pelos novos parâmetros disseminados pelos meios de comunicação. É justamente neste momento de mudanças efervescentes que se procura descobrir um lutador, que esteja apto a entrar na arena e enfrentar as feras que vem devorando os que não estão preparados para a nova realidade. Quem será este lutador? Este ser capaz de mudar a visão das pessoas? De despertar uma nova consciência? De fomentar o desejo para adaptarem-se as mudanças? De acordá-las para a nova e velha era? Não encontramos outro ser mais indicado que o educador, sim o educador, o agente da transformação, o sujeito ativo e mediador da “nova” consciência. Interagindo com o meio de uma forma imparcial buscará ele cumprir o seu papel de construtor e transformador de idéias e como ninguém constrói sozinho, nem somente com palavras, mas com atitudes e gestos nobres, esta seria a hora ideal do educador. Toda boa construção depende de um bom alicerce, um bom alicerce propicia condições para boas colunas que por sua vez garantem a estabilidade de uma grande construção. O educador tem a ferramenta certa: a educação. Começa no terreno certo: a infância.

Acreditamos não existir para o momento, alguém que possa contribuir tanto, quanto o educador, pois sem a educação não poderá haver a verdadeira mudança, a mudança do ser, pois o progresso do mundo depende primeira e exclusivamente da educação e a educação requer o educador para atingir o educando. Quando o mundo se desequilibra com as mudanças, então urge a necessidade de investir nas crianças de hoje para que possam enfrentar o dia de amanhã. Quem moldará essas vidas? Quem poderá auxiliar os desesperados? Só temos uma resposta para o momento: o educador.

Desde os primórdios que a educação tem alterado as sociedades e mudado o seu curso. Hoje não será diferente! A educação ainda é o elemento de instrumentalização da verdadeira mudança. Essas sim, são mudanças que mudam.
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